É muito comum nos aproximarmos de algo para finalmente poder controlar, por exemplo, começamos a tomar consciência da nossa fome física, saciedade, gatilhos emocionais para então controlar a relação com a comida e o peso corporal. Isso pode reforçar a ideia de que os pensamentos são a única inteligência que existe e nos surpreendemos quando em alguns temas simplesmente não conseguimos resolver as coisas apenas pensando. Os paradoxos são potentes em nos lembrar disso, quanto mais pensamos sobre eles, mais adentramos em ruas sem saída.
Entrei em uma rua sem saída ao me aproximar da última menstruação. Tinha programado a minha agenda para desacelerar o ritmo de trabalho quando a menstruação chegasse, então uma semana antes do planejado comecei a sentir que meu útero já estava quase pronto para sangrar (obs. Eu não sei se essa é a melhor forma de dizer isso, mas tenho me permitido experimentar a linguagem enquanto me aproximo cada vez mais desse tema).
Quais foram as sensações que sinalizaram que minha nova lunação se aproximava? Notei pequenos desconfortos nas regiões do baixo ventre, diminuição gradativa da disposição, intensificação da dor nos seios e aumento de número de horas dormidas. E nesse momento sempre quero alugar uma caverna com comida, chá e bolsa de água quente inclusa para que eu possa sangrar em paz.
Os dias seguiram assim e nada de sangue e aí iniciou uma conversa interna “E aí útero vai ou não vai?”, gostaria de adicionar que nessa conversa teve uma leve pressão da minha parte e uma tentativa de culpá-lo “Ei! Eu me programei na semana que vem para que pudéssemos sangrar em paz, por que você não segue o calendário?”. Adiciono uma pitada de raiva e continuo: “Já entendi que sou cíclica, agora quando tento organizar as coisas, você muda tudo”.
Quando me dei conta do diálogo interno, ficou claro como o controle estava por traz das palavras. E que bom que o corpo segue uma sabedoria milenar e que não cede simplesmente a pressão de pensamentos controladores (ufa).
Disse a mim mesma “Útero, vai no seu ritmo já que você conhece a natureza melhor do que eu”. Fiquei pensando que seria a mesma coisa pedir para uma árvore segurar as folhas porque fiz um pedido online e câmera que filma folhas caindo só chega na semana que vem.
Compreender os ciclos, também significa fluir com eles, sem padrões rígidos e regrar. E essa é uma grande habilidade, já que tem a ver com o treino de confiar no corpo e outras sabedorias.
Pouco a pouco começo a olhar para a menstruação como uma convidada misteriosa, regada de sabedoria e caminho para poder honrar a sua presença mensalmente em minha vida. Que esse texto possa abrir diálogo com você que menstrua ou você que é mulher e não menstrua por alguma razão.
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